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Risonho… e límpido…

September 2, 2009

Em março deste ano, a cantora Vanusa, 61, foi convidada a cantar o hino nacional em evento da Assembleia Legislativa de São Paulo. O vídeo que registra a apresentação ganhou notoriedade no YouTube só agora. Nele, a cantora se perde entre os versos da música e na melodia, numa performance que levantou suspeitas de que ela estivesse bêbada durante a cerimônia.

A princípio, a cantora erra uma ou outra palavra e, a partir de um ponto, parece improvisar, encaixando aleatoriamente pedaços da letra a uma melodia que vagamente lembra o hino nacional. Na última terça (1º/9), Vanusa contou ao programa “Boa Tarde”, da Band, que, antes de ir para o evento, havia tomado remédio para labirintite, “calmante” e Neosaldina, depois de ter discutido com o filho Rafael (Rafael Vanucci, vencedor do reality “Casa dos Artistas”, do SBT, em 2002). O coquetel supostamente explicaria sua desorientação.

Com seus arranjos pomposos e tom épico, os hinos são feitos para conjurar sentimentos de patriotismo, honra, orgulho e afins. Neste caso, conforme testemunharam alguns no YouTube, provocou “vergonha”. Bobagem. Puro chauvinismo. Tentativas de interpretação “autoral” de hinos –de Jimi Hendrix a Fafá de Belém– nunca deram bons resultados. Nesse contexto, a versão de Vanusa até que é interessante, ainda que involuntariamente, pelo seu radicalismo, pela desconstrução caótica que faz dessa melodia e dessa letra que já se ouve como quem está surdo.

O hino nacional foi composto pelo maestro Francisco Manuel da Silva (1795-1865), fundador do Imperial Conservatório de Música, e a letra foi escolhida num concurso público, realizado no final do século 19, após a proclamação da república, em 1889. Os versos vencedores foram os do jornalista carioca Joaquim Osório Duque Estrada, que, neles, não poupou inversões e uso de vocabulário precioso, típicos do estilo parnasiano –o que não facilitou nada para Vanusa.

Nem para Fafá, primeira artista brasileira de sucesso a gravar o hino nacional em uma versão “interpretativa”, melosa, como se ele fosse uma balada romântica, em 1984, no calor da campanha das Diretas Já. Antes disso, durante os anos da ditadura no Brasil, valia a disposição da Lei 5.700, de 1º de setembro de 1971, sobre os símbolos nacionais, que proíbe a execução do hino em uma versão cantada que não a oficial, arranjada por Alberto Nepomuceno, e discrimina até o tom: fá maior.

Em tempo: Vanusa começou a carreira na jovem guarda, em meados dos anos 60, mas ficou famosa mesmo em 73, com “Manhãs de Setembro”, que trazia o verso “fui eu quem se fechou no muro e se guardou lá fora”. Em 75, gravou “Paralelas”, composição de outro personagem da música brasileira que esteve em evidência nas últimas semanas, Belchior, e que trazia o verso “no Corcovado, quem abre os braços sou eu”. Depois veio “Mudanças”, em 86, em que ela queria “deixar de ser menina, pra ser mulher”. Ou seja, tudo isso prova que não é de hoje que Vanusa tem experiência com versos complicados. O episódio com o hino só pode ter sido mesmo culpa dos remédios.

Abaixo, capa da revista “O Cruzeiro” de 1967 mostra Vanusa e o lutador de telecatch Ted Boy Marino. Na época, os dois integravam o elenco do programa “Adoráveis Trapalhões”, da TV Excelsior, ao lado de Ivon Cury, Dedé Santana e Renato Aragão, um embrião do que mais tarde viriam a ser “Os Trapalhões”.

Imagem: Reprodução